É extasiante ouvir música boa. Algumas delas reportam-nos à tempos, energias, à situações vividas ou então àquelas sensações de lembrança do que não recordamos.
A história, por exemplo, trás o contexto social. Estudando, nós entramos parcialmente na atmosfera das situações. Como as pessoas viviam e o que viviam. Mas, com a música, nós incorporamos não somente a atmosfera, mas, o cotidiano do que às vezes nós nem experimentamos.
Captamos o sentimento mais nobre ou mais vil, de uma inspiração momentânea daquele passado, como a que teve Vivaldi em suas Quatro Estações, e então nos encaixamos em uma das óticas sentimentais daquilo. Um estudo concebe uma lógica, mas não repassa emoção como a música quando nos eleva à meditação. E isso é muito importante, pois prepara terreno para entender como as coisas realmente são. Assim, pesquisando alguma coisa, já se sabe o sentimento do que se procura.
História é o relato descritivo, um pouco distante. A música é a expressão gritante. Desabafo e poesia. Ela é a subjetividade dos seres humanos e a forma divina de expressar, condições terrenas ora boas, ora ruins.
Ativada a sensibilidade, fecham-se os olhos e entende-se tudo melhor ao ouvir a música que se gosta. Acho, na minha modesta opinião, que a euforia da música de qualidade é o estado de espírito constante do céu mais alto que há. Na clareza deste céu, a obra musical é a trilha sonora da vida na morte. Se por lá, a luz se faz presente irradiando muito mais do que aqui e se a música é uma forma de conexão com Deus, acredito em tal possibilidade. Acredito que o bem se faça tão presente, que o coração vibra lá a todo instante como vibra nos curtos minutos que ouvimos música aqui no mundo.
Quantas vantagens e benefícios podem-se atribuir ao som da alma. Serão todos eles enumeráveis? Além de tudo isso, e por causa também, a música é o ponto cardeal da dignidade e força de atitude. Sabes ouvir música e podes usá-la nas horas difíceis da vida. Uma letra que diga verdades com beleza e poder nos reestrutura, revitaliza, constrói. A soma de melodia mais letra é armadura, elmo e espada para enfrentar o que nos tenta acometer. As religiões sabem disso e usam cânticos para efetivar o objetivo dos crentes.
Música também esfolia a alma. Isso quer dizer que ela pode amaciar nossos calos, trazer à tona o que se recolheu no âmago do nosso ser. Muitas coisas estão nas nossas profundezas, recolhidas e discretas: nossa criança, nosso brilho e fé, alegria. Espontaneidade costuma se esconder igualmente por lá. A música é ótima agente contra as couraças; ela nos ajuda a florescer e achar o que se perdeu dentro da mente e coração. A música é um banho.
Enfim, já banhados e florescidos, de espada e lira em punhos, brilhantes e emplacáveis podemos melhorar nossa existência. Ganharemos uma capacidade muito maior de conexão com o superior, nos elevaremos e então muitas respostas virão. Respostas objetivas que nos esclarecem a razão, e respostas de intuição que somente acalmam e dão satisfação. Talvez seja essa a explicação para a música. Ela deve existir para isso: conectar-nos ao elo perdido. Dentro de nossa irracionalidade a inventamos sem saber por que de inventar, apenas inventamos por vontade e por notar que faz bem. E, racionalmente, agora podemos entender o porquê de termos feito isso. Entender o porquê de termos achado o som da alma e então teremos alcançado outro patamar de inteligência.













